Fazenda Colégio, Itaporanga D’Ajuda-SE: alguns marcos do seu passado
Por: Francisco José Alves (Departamento de História-UFS fjalves@infonet.com.br)
A cerca de 40 km de Aracaju, no município de Itaporanga d’Ajuda, às margens da rodovia estadual SE 228, recentemente denominada Rodovia Humberto Mandarino (que liga a BR 101 à praia da Caueira), domínios da Fazenda Iolanda, antigo Colégio, dorme, desconhecido por muitos, um marco da história sergipana de singular importância. Estou aludindo à igreja e à casa jesuíta de Tejupeba, edificações do início do século 17 que testemunham, com vigor, a presença atuante dos seguidores de Santo Inácio de Loyola (1493-1556), nas terras de Sergipe Del Rei. Vejamos algumas datas marcantes deste monumento:
1601 – março - Os jesuítas de Salvador solicitam ao capitão-mor Manoel Miranda Barbosa uma porção de terra no lado direito do Vaza-barris junto a Serra da Cajaíba, no local da extinta aldeia indígena denominada Pixapoan. (Carta dos padres da Companhia de Jesus, São Cristóvão, 10 de março de 1601. In: FREIRE, Felisbelo. História de Sergipe. 2 ed. Petrópolis: Vozes, 1977. p. 35).
1612 - Diogo de Campos Moreno (1566 – pós. 1617) registra Tejupeba (Cotegipeva) como um núcleo de índios aldeiados e uma potente fazenda de gado. Escreve o cronista: “nesta capitania tem os padres da Companhia [de Jesus] muitas terras e fazendas e tem a seu cargo a maior força dos índios daquele distrito assim donde chamam Cotegipeva [Tejupeba]” (MORENO, Diogo de Campos. Capitania de Sergipe Del Rey. Livro que dá razão do Estado do Brasil. Recife: Arquivo Público Estadual, 1955)
1692 – cerca - Atua na fazenda o irmão jesuíta José Torres de Milão construtor de embarcações. À época Tejupeba era um dos “estaleiros” da Companhia de Jesus no Brasil. (LEITE, Serafim. Sergipe Del Rey. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: INL, 1945. V.5 p.316-327.)
1704 – junho- Jesuítas de Sergipe enviam a Salvador um irmão de hábito para queixar-se das “violências” praticadas contra eles pelo Capitão Manuel Pessoa de Albuquerque. (Carta para o Capitão Manuel pessoa de Albuquerque... Bahia, 1º de junho de 1704. Documentos Históricos. Rio de janeiro: Typ. Batista de Souza, 1938. V.40. p.111-112)
1704 - 20 de dezembro - Morre, em Tejupeba, o irmão jesuíta José Torres de Milão. (LEITE, Serafim. História da Companhia de Jesus no Brasil. Rio de Janeiro: INL, 1945. V.7 p.249-263.)
1721- dezembro - Índios de Tejupeba escrevem ao vice-rei Vasco Fernandes César de Menezes, o conhecido Conde de Sabugosa, vice-rei do Brasil entre 1720 e 1735, solicitando providências contra os jesuítas. O vice-rei escreve ao padre provincial da Companhia de Jesus solicitando que remedie a situação com toda a brevidade”. (Carta que se escreveu ao Pe. Provincial da Companhia, Bahia, 10 de dezembro de 1721. Documentos Históricos. Rio de janeiro: Typ. Batista de Souza, 1944. V.63, Tomo 2. p.176-7)
1759 – setembro - O Jesuíta Pe. José Teixeira, morador de Tejupeba, é preso e enviado à Bahia para ser expulso do Brasil com os demais membros da ordem. (CAEIROS, José. De Exílio Provinciarum... Bahia: Tipografia Salesiana da Bahia, 1936. p. 105-107)
Segunda metade do século 18 (pós 1759) - Domingos Dias Coelho, então “familiar” do Santo Ofício (cuja patente data de 14 de dezembro de 1764), arremata a fazenda Colégio expropriada dos Jesuítas pelo rei de Portugal Dom José I (1714-1777). (MOTT, Luiz R.B. A inquisição em Sergipe; do século XVI ao XIX. Aracaju: FUNDESC, 1989.). A aquisição da fazenda Colégio por Domingos Dias Coelho é uma inferência. Não localizei documentos que falem positivamente dela.
1785- Nasce Domingos Dias Coelho e Mello, futuro Barão de Itaporanga, filho do Sargento Mor Domingos Dias Coelho e Mello e de Maria Theresa de Jesus. (http://www.sfreinobreza.com/Nobl3.htm, acesso em 23/12/2008, às 11:32h)
1822 - Nasce na fazenda Colégio Antônio Dias Coelho e Melo, futuro Barão da Estância, filho de Domingos Dias Coelho e Melo (Barão de Itaporanga) e de Michaela Coelho Dantas e Melo. (GUARANÁ, Armindo. Dicionário Bio-bibliográfico sergipano. Rio de Janeiro: Pongetti, 1925)
1874 - Morre, na fazenda Colégio, Domingos Dias Coelho e Mello, Barão de Itaporanga. (http://www.sfreinobreza.com/Nobl3.htm, acesso em 23/12/2008, às 11:32h) 1904 - É sepultado na igreja da fazenda Colégio o Barão da Estância. (GUARANÁ, Armindo. Dicionário Bio-bibliográfico sergipano. Rio de Janeiro: Pongetti, 1925)
1920-1929 (cerca) - Nicola Vibonatti Mandarino compra a fazenda Colégio aos herdeiros de Antônio Dias Coelho e Mello, o Barão de Estância (1822-1904). Mandarino rebatiza a fazenda com o nome de Iolanda em homenagem a uma de suas filhas. O novo proprietário reforma o velho casarão construindo dois banheiros e uma nova cozinha. (Depoimento de Dona Ruth Mandarino ao autor em setembro de 2006)
1930 - Nicola Mandarino constrói uma nova casa na fazenda. (Depoimento de Dona Ruth Mandarino ao autor em setembro de 2006) 1930-1959 - O térreo da casa velha abriga uma pequena indústria de beneficiamento de pimenta. (Depoimento de Dona Ruth Mandarino ao autor em setembro de 2006)
1943 – maio - O Serviço do Patrimônio Artístico e Histórico Nacional tomba a igreja e a casa da fazenda Tejupeba. 1953 - IPHAN realiza restauro na igreja da fazenda Colégio. (Carta de Umberto Napoleone Mandarino (1923-1982) ao Dr. Renato Soeiro, diretor do IPHAN. Aracaju, 12 de junho de 1972)
1959 - Nicola Mandarino muda-se para o Rio de Janeiro e deixa a fazenda Colégio aos cuidados do filho Umberto Mandarino. (Depoimento de Dona Ruth Mandarino ao autor em setembro de 2006)
1960-1980 (cerca) - O térreo do velho sobrado da fazenda abriga pequena escola primária mantida pelo proprietário Umberto Mandarino. A fazenda Colégio perde parte de sua área que dá lugar aos povoados Nova Descoberta, Várzea Grande e Oiteiro. (Depoimento de Dona Ruth Mandarino ao autor em setembro de 2006)
1973 - O IPHAN realiza restauro na casa da fazenda Colégio. (Carta de Umberto Mandarino ao Dr. Renato Soeiro, diretor IPHAN. Aracaju, 13 de agosto de 1975)
1990 - A família Mandarino, proprietária da fazenda, realiza pequeno reparo no telhado da igreja. (carta de Ruth Mandarino ao Ministro da Cultura Francisco Correa Weffort, Itaporanga D’ajuda, 03 de junho de 2000)
2004 - IPHAN realiza restauro do telhado da igreja da fazenda Colégio que havia desabado com as chuvas de inverno (junho). (Ata da reunião sobre procedimento administrativo nº 1.35.000.000463/2004-32 da Procuradoria da República no estado de Sergipe realizada em 19/11/2004) 2006 (segundo semestre) - IPHAN realiza restauro do casarão da fazenda. (Depoimento de Dona Ruth Mandarino ao autor em setembro de 2006).
Artigo publicado inicialmente em 10/05/2009. In: http://www.jornaldacidade.net/2008/noticia.php?id=32489