CULTURA POPULAR: REISADO DO MESTRE JUAREZ UM MARCO NO FOLCLORE ITAPORANGUENSE
Por: ANACELIA DE SOUZA LUDUVICE e BRUNO PINHEIRO LIMA
ORIENTADOR: JUCÁ ADRIANO
1. INTRODUÇÃO
Atualmente muito se discute sobre o conceito de cultura, esta que tem sua definição como sendo uma rede de significados que dão sentido ao mundo que cerca um individuo, ou seja, a sociedade. Essa rede engloba um conjunto de diversos aspectos, como crenças, valores, costumes, leis, moral e etc.[1] em outras palavras cultura pode ser entendida como sendo tudo aquilo que o homem produz como a música, arte, dança e até mesmo a produção material.
Os congressos Brasileiros têm produzido, desde o primeiro, em 1951, coincidente com o Centenário de Silvio Romero, definições que são aperfeiçoadas, permitindo adornar o próprio fato folclórico com a diversidade da caracterização do patrimônio imaterial, como propõe, agora, a Comissão Nacional de Folclore, no documento encaminhado à Frente Parlamentar de Defesa da Cultura Popular, da câmera federal. 2
Isto é, a cerca de discussões sobre o que seja cultura imaterial, o panorama brasileiro vem se alargando dando-lhe assim uma nova abordagem do conceito ao que se refere ao patrimônio imaterial.
Contudo com toda essa diversa e ricas tradições passa a existir uma distinção da cultura destinada a população mais favorecida, considerada como cultura erudita. Por outro lado surge uma nova cultura, esta que é caracterizada por uma despadronização da sociedade, desprezando assim as exigências que a sociedade estabelece que pode ser entendida como contra- cultura.
Entretanto a cultura popular é a que tem maior relevância no que se refere aos estudos destinados a cultura, já que esta é direcionada a grande população, tornando-se assim acessível a todos os públicos. Sua vasta diversidade é um dos fatores que contribui para a realização de pesquisas. Contudo tem se o folclore como um dos principais exemplos de patrimônio imaterial. Este que apresenta suas peculiaridades em cada região do país.
"O Brasil tem, em seu favor ou exagero algum, o mais variado e complexo repertório de cultura popular. Como sociedade multiétnica, os repertórios são plurais pelas influencias, diversos em suas manifestações artísticas e produzem uma identidade singular, típica, sem semelhança com outras identidades."[2]
Tendo como exemplo, a região norte e nordeste destaca-se no que se refere à pluralidade cultural, já que esta apresenta maior predominância em realizações de manifestações folclóricas, e resgate de antigas tradições valorizando assim sua identidade cultural. Em Sergipe, por exemplo, umas das mais conhecidas representações folclóricas é a batalha entre os lambe - sujos e os caboclinhos, esta que simboliza a luta entre escravos e índios. Entre outros se destacam também o reisado, o cacumbi, o grupo de pífanos, a chegança, os piões, o samba de coco.
Dentre este se destaca o reisado, por existir em vários municípios do estado, como: Pirambu,Laranjeiras, Japaratuba, São Cristóvão, Itaporanga, dentre outros.
As cidades Sergipanas que contribuem para a difusão cultural e auto-afirmação de identidade, destaca-se Itaporanga D´ Ajudá, esta que serve como ponto de partida para discussão aqui abordada.
O Reisado que se originou em Portugal, e foi trazido para o Brasil com a chegada dos colonizadores que aqui vieram. E tem como representação o nascimento do menino Jesus, apresentando-se em períodos natalinos.
O Brasil apresenta semelhanças ao que diz respeito ao seu significado, porém possuindo características próprias, misturando temas sacros e profanos.
O reisado é formado por um grupo de músicos cantores e dançarinos que percorrem ou não as ruas, de porta em porta anunciando a chegada do Messias, pedindo prendas e fazendo louvações aos donos da casas por onde passam.
A denominação reisado persiste em Alagoas, Sergipe e Bahia. Em diversas outras regiões o folguedo é chamado de bumba-meu-boi, Boi de Reis, Boi-Bumbá ou simplesmente, Boi. Em São Paulo, por exemplo, é conhecido como Folia de Reis, diferentemente do nordeste que é conhecido como apenas Reisado.
Em Sergipe é apresentado em qualquer época do ano e não apenas nas festas de Natal e Reis. Com exceção apenas ao período da quaresma, em que é realizado logo na primeira semana o enterro do boi Janeiro, inibindo assim qualquer apresentação. Voltando apenas a apresentar-se após o período da quaresma.
O reisado tem como personagens principais o Mestre, o Rei e a Rainha (Dona do Baile ou Dona Deusa), o Contramestre, o Mateus ou a Cabloca, a catirina, figuras e moleques.
Existe na cidade de Itaporanga D'Ajuda seis grupos de reisado, sendo que cada um possui suas peculiaridades, o grupo "Filhas de Maria", este que é formado por apensas mulheres, e compõe um grupo religioso da paróquia local, há também o que tem como líder "Duninho", e caracteriza-se por ter em suas representações a forma tradicional dos seus personagens, já o reisado do "Mestre Juarez", este que foi um dos pioneiros na cidade em relação a manifestações culturais, e que tem bastante destaque na cidade, já que este deu inicio na década de 40, juntamente com seu pai (José Pinheiro) e Dona Miúda , e que ao longo dos anos juntos com seus filhos e esposa , mantiveram viva essa tradição.
Atualmente fazem parte do seu reisado, sua filha representada no folguedo como "Cabocla", e sua atual esposa como "Dona Deusa". Tendo como herdeiro da tradição seu filho "Duninho", que é líder de outro grupo de reisado, e este passará a ser o percussor do grupo após a morte de seu pai, desejo este já mencionado por Sr. Juarez.
O Sr. Juarez deu inicio ao reisado após ter presenciado as primeiras apresentações na cidade de Itaporanga D'Ajuda que eram realizadas por "Zé Cantor", e juntamente com o seu pai (José Pinheiro), Sr Juvino e Dona Miúda, esta que foi a primeira representante da Dona Deusa do reisado "Baile Estela", que assim era chamado inicialmente o reisado do Sr. Juarez, este criou um cântico para apresentar frente à igreja matriz:
O baile estrela quando
avistou a matriz,
era uma Santa imperatriz.
Nos festejamos, chegamos
em boa hora, visitar
Nossa Senhora, coroada no altar.
O Sr Juarez junto ao seu reisado representa um marco na cultura Itaporanguense, fato este que se pôde notar a partir do momento em que o mesmo representou a cidade em um encontro, que teve como finalidade apresentar as manifestações culturais das cidades Sergipanas ao atual ministro da cultura (Gilberto Gil).
Este que depois de presenciado uma pequena demonstração de como é realizado o reisado, convidou o Mestre Juarez, para que junto com outros líderes de manifestações culturais de alguns municípios Sergipanos, representassem o Estado em Brasília.
Porém por falta de incentivo e patrocínio, o município de Itaporanga não foi representado, deixando assim de ser divulgado nacionalmente.
A partir dos fatos apresentados, nota-se uma desvalorização no que se refere a manifestação cultural. Tendo em vista que predominou um desprestigio, Dante do reisado e de outros grupos culturais.
Em virtude dos fatos mencionados, torna-se de suma importância, fundamentar questionamentos a respeito, a quem cabe a responsabilidade de preservar a cultura local, se a população, que ao longo do tempo vem esquecendo a tradição que reproduz sua identidade, apropriando para si "novas culturas". Ou dos governantes que se inibem diante do incentivo e da divulgação da cultura local.
2. JUSTIFICATIVA:
Este projeto justifica-se pelo fato, que os responsáveis pela pesquisa serem oriundos do mesmo espaço social em que o objeto de estudo esta inserido, em Itaporanga D´Ajuda. Todavia, este projeto torna-se viável, pois enfatiza a necessidade de se produzir trabalhos que apresentem maior disponibilidade e visibilidade no que diz respeito à cultura popular. Aqui demonstrada pelo reisado de mestre Juarez, este que é conhecido na cidade como o um dos pioneiros em relação a manifestações culturais do município, preservando assim a tradição.
No tocante as fontes, o mesmo não apresenta tantos documentos escritos disponíveis, como desejavam os autores do projeto, com tudo há grande disponibilidade de fontes orais.Através de relatos de antigos e atuais participantes do reisado, possibilitando assim que o desenvolvimento do projeto seja realizado.
3. OBJETIVOS:
•ESPECIFICO
Difundir a tradição popular em Itaporanga, tendo como base a representação do reisado do mestre Juarez.
Procurar divulgar e ressaltar a importância do reisado como manifestação cultural fundamental na construção da identidade do povo de Itaporanga D´ Ajuda.
Apresentar um panorama histórico do reisado em Sergipe e em Itaporanga D'Ajuda.
Destacar o sujeito cultural Mestre Juarez.
•GERAL:
Apresentar a figura de mestre Juarez e o reisado como sujeito formador da cultura popular de Itaporanga.
4. METODOLOGIA:
A pesquisa será realizada a partir de fontes escritas, empregando sobre as mesmas leituras e fichamentos de livros, monografias e artigos que abordem assuntos referentes à cultura popular, folclore e que apresentem como foco principal o reisado em Sergipe, para assim oferecerem suporte ao objeto de estudo.
Será utilizado também o método de historia oral, com a utilização de entrevista tanto com o mestre Juarez ,assim como, relatos de pessoas que tiveram participação direta e indiretamente da presente manifestação.
5. FUNDAMENTAÇÃO TÉCICA:
Ao analisar os livros referentes à cultura popular, principalmente aqueles que têm maior relevância ao que se refere à cultura sergipana, tem nos mostrado que apesar de ter surgido desde os tempos modernos a cultura vem sofrendo grande desvalorização. Notando-se assim essa desvalorização até no setor educacional.
"As escolas precisam amplificar o som das cantigas de roda, dos Reisados, dos Guerreiros, dos Pastoris, dos Violeiros e dos Cantadores de improviso, do coco pandeiro e com o ganzá." (Barreto,Luiz Antonio. Folclore-Ivenção e Comunicação. p.97)
(p.97) "O folclore precisa chegar á escola, ser servido a alunos e a professores, e inspirar seu mais exitoso aproveitamento." (Idem,Ibidem. p.95)
A escola exercendo assim um papel de formação para o cidadão, muitas vezes acabam por inibir a identidade cultural na qual esta inserida, prestigiando assim outras manifestações, com menor valor cultural ao que diz respeito ao seu meio social, tendo como exemplo o halloween, este que vem ganhado uma maior valorização com os jovens. Sendo que halloween apesar de ter se originado nos Estados Unidos, vem ganhado mais destaque nas escolas do que o próprio folclore brasileiro. Já que as escolas enfatizam culturas de outras sociedades, esquecendo-se assim da cultura local, na qual esta envolvida.
"O Folclore não pode continuar sendo visto, então, como a cultura dos pobres, identificando por características que fossilizam a existência dos povos, prendendo-os, inapelavelmente, ao passado, ao sem espaço local e sem os suportes de sua validade.( Barreto,Luiz Antonio. Folclore-Ivenção e Comunicação.p101)
Visto que o Brasil apresenta uma grande pluralidade cultural, conseqüência essa da mistura entre os povos de origem indígena negra e branca. Sendo cada um deles possuidores de sua formação cultural.
A respeito desse assunto foi feita uma pesquisa cientifica, com o intuito de divulgar o valor que o folclore representa para a sociedade.
"A pesquisa tem sido responsável pelo que de melhor o Brasil produz em favor do entendimento do folclore, sua projeção na cultura, sua preservação na sociedade." (Barreto,Luiz Antonio. Folclore-Ivenção e comunicação, P.105)
A partir de então, será enfatizada uma, manifestação que apresenta uma pluralidade cultural, já que esta se originou do Europeu, e ao chegar ao Brasil sofreu mudanças em sua forma.
Com base na metodologia utilizada, foi realizado o método de historia oral, com a utilização de entrevistas do percussor do folclore de Itaporanga, e ao fazer uma pesquisa bibliográfica com artigos relacionados ao tema, nota-se contradições ao que se refere a historia do reisado de Itaporanga.
"Em Itaporanga D' Ajuda encontramos o Reisado de "Zé do Vale", como é conhecido no município comandado por Mestre Juarez, natural de lá" [3]
No tocante, a esta afirmação a mesma apresenta controvérsia, sendo que a denominação "Zé do Vale" não se refere ao Sr Juarez, e sim ao personagem que ele representa no folguedo, sendo este também conhecido como Mateus.
No artigo elaborado por acadêmicos da Universidade Federal de Sergipe, cujo tema refere-se ao Reisado de Itaporanga D' Ajuda, conta a criação do Reisado há mais de 75 anos, sendo a fundadora "Dona Miúda". Porém segundo Sr Juarez a fundação do Reisado na cidade se deu através de "Zé cantor", que apresentava-se no Povoado Água Bonita do município, o mesmo que já era prestigiado por Sr Juarez durante sua infância. E após presenciarem essas apresentações, seu pai, Sr Jose Pinheiro, juntamente com Dona Miúda e Sr Jovino resolveram criar seu próprio Reisado, já que Zé Cantor teria partido da cidade, deixando assim a tradição por conta dos novos brincantes.
Com relação às cores, no artigo já mencionado é relatado que a origem das cores, o vermelho e o verde, representam os times de futebol Sergipe e Confiança, porém o Sr Juarez relata que, as cores referem-se à bandeira que é utilizada na hora por Dona Deusa.
"... seguem em cortejo chegando em determinado lugar e pedindo licença para entrar, louvam o Divino, fazem as chamadas, a dramatização e encerramento da função..."[4]
O Reisado de Itaporanga, diferentemente em outros municípios não se apresenta em cortejo, e nem com louvores, o mesma apresenta-se para o publico, não tendo como característica a caminhada pelas ruas da cidade.
"Em Itaporanga, ao contrario do que acontece nos municípios onde o dia de Reis e todo o ciclo natalino é comemorado com base na aproximação do fato folclórico e litúrgico, o Reisado segue sua jornada longe dos olhos da igreja, o que não se configura como um empecilho para sua existência e resistência, mas nos coloca a questionar até que ponto essa posição de "marginalidade" em relação ao cenário litúrgico não contribui para, no sentido da tradicional idade do fato folclórico , uma reconfiguração desse auto em relação aquilo que em princípio daria a sua existência de maneira geral, pois não percebemos na fala de seus representantes, sinais de devoção, de fé, como símbolos do sagrado dentro da manifestação, mas antes o compromisso apenas com a "brincadeira" como eles colocam e de perpetuá-la."[5]
Fato este que teve grande relevância durante as pesquisas, suponhado-se, assim que este motivo deve-se ao não apoio cultural da paróquia local no início das primeiras apresentações de Sr Juarez, estas que eram feitas em frente à igreja Matriz e que gerou bastantes desavenças entre os religiosos da época com o Sr Juarez.
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[1] http://www.alunosonline.com.br/filosofia/o-que-e-cultura/ 5 DE NOVEMBRO DE 2009.
2 Barreto,Luiz Antonio. Folclore-Ivenção e Comunicação. Aracaju. Typografia Editorial/Scotecci Editora,2005. p81.
[2] Idem,Ibidem,P.89.
[3] Martha,Sales. VIEIRA,Riviane. GOMES,Simões Thais. MARCOS, Valter. BARRETO, Fabio. O REISADO DE Itaporanga D' Ajuda. Universidade federal de Sergipe/ Centro de educação e Ciências Humanas/Departamento de Ciências Sociais, São Cristóvão, 2007.
[4] Idem,Ibidem 3.
[5] Idem,Ibidem 3.
Fonte: http://www.webartigos.com/articles/31425/1/CULTURA-POPULAR-REISADO-DO-MESTRE-JUAREZ-UM-MARCO-NO-FOLCLORE-ITAPORANGUENSE/pagina1.html#ixzz0y1lZJGBh
BIBLIOGRAFIA
BARRETO,Luiz Antonio.Folclore-Invenção e comunicação. Aracaju. Typografia Editorial/ Scortecci Editora. 2005.
PERSAVENTO, Jatahy Sandra. Historia e historia cultural/2° Ed, Belo Horizonte: Autentica, 2005.
Martha,Sales. VIEIRA,Riviane. GOMES,Simões Thais. MARCOS, Valter. BARRETO, Fabio. O REISADO DE ITAPORANGA D' AJUDA. Universidade federal de Sergipe/ Centro de educação e Ciências Humanas/Departamento de Ciências Sociais, São Cristóvão, 2007.
ALBERTI, Verena. Manual de história oral. 2. ed., rev. e atual. Rio de Janeiro: FGV, 2004.
BRANDÃO, Carlos Rodrigues . O que é folclore. 10. ed. São Paulo : Brasiliense. 1994.
ROMERO, Sílvio. Folclore brasileiro: cantos populares do Brasil. Rio de Janeiro: J. Olympio, 1985.
Oliveira, Lys. Pontes, Priscila. Nunes, Pacheco Flavia Amanda. Anjos, Nila Cardoso Dos. Carvalho,Jonathas Sandes de. FOLCLORE EM ITAPORANGA. Universidade federal de Sergipe/ Centro de educação e Ciências Humanas/Departamento de Ciências Sociais, São Cristóvão, 2007.
SOBRE OS AUTORES:
Os acadêmicos Bruno pinhiro lima e Anacelia de souza luduvice são alunos do 3° periodo do curso de historia da universidade tiradentes em Aracaju/Se. A elaboração deste artigo deve-se a atender a disciplina pesquisa II. Com a orientação do professor Jucá Adriano. E-mail para contato: kika_luduvice@hotmail.com e Brunopinheirolima@hotmail.com
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CULTURA POPULAR: REISADO DO MESTRE JUAREZ UM MARCO NO FOLCLORE ITAPORANGUENSE publicado 21/01/2010 por anacelia luduvice em http://www.webartigos.com
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